A brasileira na luta pela inclusão e direitos das mulheres negras
Champions of Change é uma iniciativa iniciada pelos desbravadores para destacar os defensores que causaram impacto em suas comunidades e ajudaram a criar sociedades pacíficas, justas e inclusivas (SDG16 +). Ele oferece uma oportunidade de apresentar indivíduos, empresas e organizações fazendo coisas extraordinárias para empoderar e inspirar os membros de suas comunidades.
Valdecir Nascimento é a coordenadora executiva do ODARA — Instituto da Mulher Negra em Salvador, Brasil. Ela também coordena a Rede de Mulheres Negras do Nordeste do Brasil e foi uma das organizadoras da Marcha de Mulheres Negras que ocorreu em 2015. Ela é uma proeminente ativista pelo direito das mulheres negras e está envolvida em movimentos sociais por mais de quarenta anos.
Conversamos com Valdecir Nascimento para saber mais sobre seu trabalho e o que a inspira:
O que lhe motivou a começar a trabalhar em prol de sociedades mais pacíficas, justas e inclusivas?
O objetivo do meu trabalho é reivindicar direitos, enfrentar o racismo, as diversas formas de violência e opressão direcionadas para a comunidade negra e particularmente as meninas e mulheres negras. Eu enfrento uma série de obstáculos no meu trabalho, entre eles o racismo articulado com o sexismo, o fundamentalismo religioso, a violência estatal nas comunidades populares, o crescimento do poder das milícias e do narcotráfico, a violência contra as defensoras de direitos humanos e a falta de acesso à Justiça.
O que significa sucesso para você em termos de criar sociedades mais pacíficas, justas e inclusivas? Quais são os fatores decisivos para alcançar essa visão?
Para mim, sucesso é alcançar a garantia dos direitos humanos das mulheres e da população negra em geral, o fim de todas as formas de opressão, a garantia dos direitos dos povos originários e comunidades tradicionais, a proteção e preservação das florestas e rios, a segurança alimentar e nutricional, a equidade nos espaços de poder e decisão, a distribuição equitativa das riquezas, e o fim das guerras.
Para alcançar esse objetivo, primeiro precisamos entender que no Brasil a maioria da população vive em situação de exclusão em função do seu pertencimento étnico/racial, e, portanto, não será possível promover igualdade até começarmos a considerar o racismo como um determinante das relações de desigualdades no Brasil.
Como que seu trabalho contribui para os objetivos do SG16+?
O meu trabalho contribui para o fortalecimento institucional das organizações e coletivos de meninas, jovens e mulheres negras na sua diversidade para a conquista dos direitos humanos. O objetivo do nosso trabalho é não deixar nenhuma mulher para trás.
A transformação só virá com luta e organização das mulheres negras. A participação delas é fundamental para construir uma nação segura e equânime para meninas e mulheres negras na sua diversidade. Para esse fim, nós oferecemos oportunidades para aprimorar sua formação política e ativismo, incluindo aulas de Direitos Humanos e Educação das Relações Raciais, e aulas para utilização das ferramentas de comunicação e redes sociais. Nós também fomentamos a produção de narrativas contra-hegemônicas sobre as mulheres negras, suas comunidades e suas vidas e a criação de redes comunitárias e ações de Planejamento de Desenvolvimento Local e sustentável. Além disso, oferecemos cursos de elaboração de projetos e estratégias de captação de recursos e intermediamos recursos para pequenos grupos que não estão institucionalizados.
Como que o COVID-19 afetou seu trabalho? Quais foram as lições que você aprendeu com a pandemia que você pretende aplicar no seu trabalho no futuro?
Combinadas com a mudança na forma de atuação, do presencial para o virtual, o COVID-19 criou várias novas demandas oriundas da crise política, financeira e nutricional que impactam diretamente o dia a dia da organização. Algumas das consequências dessas crises são a criminalização e perseguição das organizações da sociedade civil, insegurança institucional (física e virtual), agravamento da situação de vulnerabilidade das mulheres e meninas e aumento da violência doméstica e policial.
Que conselhos você tem para pessoas que querem fazer uma diferença para criar um mundo mais pacífico, justo e inclusivo?
O primeiro passo é estabelecer um diálogo fino entre a sociedade civil, especialistas e gestores de políticas públicas a fim de avaliar as possibilidades e definir as prioridades. O próximo passo é acompanhar, monitorar e avaliar a implementação das políticas até a última etapa, e diversificar sua implementação. A criação de grupos de trabalho para acompanhar essas ações também é importante, assim como o desenvolvimento do sentimento de empatia e de consciência política de que garantir direitos não é favor e sim obrigação.